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Especialistas apontam desafios para crescimento do uso de tecnologias limpas

11/06/2015 | ABES-RS

Mesmo com tecnologia avançada já existente muitas técnicas que ajudariam o meio ambiente não são colocadas em prática ou carecem de um uso mais intenso. O principal problema é a falta de recursos financeiros, mas ainda há uma grave falta de conscientização no Brasil. A constatação pôde ser feita a partir dos relatos feitos durante o VI Seminário sobre Tecnologias Limpas que iniciou na segunda-feira e encerrou nesta quarta-feira (10/06), em Porto Alegre. O evento promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - Seção Rio Grande do Sul (Abes-RS), Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL) e UFRGS foi realizado no Hotel Continental.

A técnica responsável pelo Plano de Resíduos Sólidos da Corsan, Cristina Alfama, mostrou dados da companhia que apontam a necessidade de um investimento de R$ 8 bilhões para que todos os cidadãos dos municípios atendidos pela Corsan tenham acesso à água e esgoto tratados. Em 2013 o investimento total do Brasil foi de R$ 4,7 bilhões.

- É necessário que o direito de acesso à água potável e segura e ao saneamento seja garantido às pessoas. Além disso existe uma grande dificuldade no desenvolvimento das tecnologias para tratamento do lodo no Brasil. Podemos extrair areia, matéria orgânica, plástico e, inclusive, água que poderia ser vendida para outros fins que não o consumo humano - afirmou.

A coordenadora de Educação Profissional e Tecnologia do SENAI, Rosele Wittée, comenta que a principal dificuldade é a conscientização da população, tanto das empresas como da sociedade.

- É preciso, sim, trabalhar a cultura de não desperdiçar, mas sobretudo de prevenir a geração de resíduos. Por isso que cada vez mais apostamos na educação e na conscientização - disse.

A utilização dos lodos para a agricultura foi defendida pelo Professor do Mestrado em Governança e Sustentabilidade do ISAE - SANEPAR, Cleverson Vitório Andreolli. Mais de 50 mil artigos já foram publicados sobre o tema demonstrando que não há nenhum efeito adverso.

- Há muitas vezes um desconhecimento ou preconceito. O metal pesado nunca vai chegar a zero e isso acontece, até mesmo, na água e no ar que respiramos- ressaltou.

A pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da IPH/UFRGS, Danieli Ledur Kist, comentou que a partir do tratamento do lodo é possível aumentar a produção de biogás, que pode ser utilizado como combustível de fogões, motores e geração de energia elétrica.

- O processo de redução do lodo é proveitoso porque há uma redução do volume e uma remoção da matéria orgânica. No final esse material pode ser aplicado em solos e aterros sanitários. O pré-tratamento é um exemplo de processo que acaba melhorando o volume de biogás que é produzido - afirma.

A aplicação do biogás também foi destaque na palestra do Diretor da Usina de Compostagem e Biogás, Albari Gelson Pedroso. O projeto foi criado em 2012, e na Copa de 2014 alguns caminhões já rodaram com o biogás produzido na usina de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Segundo o palestrante a planta-piloto de biometano produz 5mil m³/dia. O palestrante, alertou para mudança de cultura na sociedade.

- Reciclar não é somente se livrar de um resíduo jogando ele no meio rural. É necessário ter a garantia de qualidade ambiental, agronômica e sanitária. A legislação ambiental muito restritiva conduz à processos excessivamente caros, o que pode inviabilizar práticas sustentáveis fazendo com que se busquem alternativas inadequadas - salienta Cleverson Vitório Andreolli.

Na Europa o lodo é utilizado na agricultura e é feita a incineração para produção de energia. Em Fukuoka, no Japão, 97% do lodo é reutilizado e somente 3% acaba indo para o solo.

Membro do IDEAAS, Fábio Rosa, destacou os problemas enfrentados pelas pequenas propriedades rurais para inserção nos modelos de negócios atuais. A grande dificuldade enfrentada é o desenvolvimento de um modelo de negócios que possa ser replicado.

- Se parte do valor que pagamos pela energia pudesse circular dentro da economia seria o ideal, moveria a indústria dentro do seu próprio território - afirmou.

Em um cenário de grave crise hídrica, o reuso da água ganhou força nos debates. A prática requer o emprego de processo de tratamento, de modo a adequar o efluente a qualidade de água para diversos usos pretendidos.

A regulação do reuso no Estado de São Paulo, foi o tema de Eduardo Mazzolenis de Oliveira da ETESB, que alertou: ao incentivar o reuso é preciso cuidado com os critérios da cobrança porque tende a aumentar o consumo e não a reduzir e conter o consumo como se prega de um modo geral.

O coordenador de saneamento da Secretaria de Saneamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Américo de Oliveira Sampaio, apresentou dados sobre o reuso da água em São Paulo chamando a atenção para a dificuldade financeira para aplicação do trabalho.

- Para fins urbanos, não potáveis, a SABESP cobra menos de um real por metro cúbico para empresas privadas. Se forem empresas públicas são 56 centavos por metro cúbico. Esses preços não cobrem, sequer o custo operacional. Fazemos porque queremos introduzir essa prática - afirmou

Em sua palestra o responsável pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Cícero Onofre de Andrade Neto, mostrou a aplicação de técnicas na agricultura de irrigação a partir de esgotos tratados.

- Medimos esgoto no Brasil inteiro e a quantidade de metais encontrados é insignificante - assegurou.

Outro tema preocupante abordado no evento foi o desperdício de alimentos. Segundo dados apresentados pelo Analista de Serviços Técnicos e Tecnológicos CNTL SENAI/UNIDO/UNEP, Felipe Saviczki, o Brasil desperdiça 400 mil toneladas de alimento por dia. 30% dessa perda ocorre nas centrais de abastecimento. O objetivo do projeto Probiogás, parceria firmada com as Centrais de Abastecimento do Estado do Rio Grande do Sul S/A (Ceasa/RS), é transformar parte deste desperdício em biogás para posterior geração de energia.

- Os desafios são a implantação da usina que realize esse processo todo, a determinação de parâmetros operacionais, e a capacitação dos profissionais que irão operar essa usina no futuro. Mas é um projeto muito inovador - defendeu.

O encerramento contou com a palestra sobre práticas de reuso de efluentes da indústria, ministrada pelo responsável pelo Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Feevale, Marco Antônio Siqueira Rodrigues.

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