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Água de beber, por Antônio D. Benetti

15/12/2014 | ABES-RS

Todo ser humano necessita de dois litros diários de água de beber. Água limpa, livre de microrganismos patogênicos e compostos químicos que causem doenças. Água agradável de beber, sem gosto e odor que provoquem repulsa no onsumidor. É um direito fundamental de cada ser humano e seu acesso deve ser política pública prioritária e todo governo preocupado com a saúde da população. Mesmo assim, no Brasil, 19 milhões de pessoas em áreas urbanas e 21 milhões em zonas rurais não têm acesso a água potável, sem contar os vários milhões que sofrem com racionamentos e água de má qualidade.

A ingestão de água contaminada pode causar mortes se as pessoas doentes não tiverem atendimento médico. A Organização Mundial da Saúde estima que 94% das diarreias estão associadas a água contaminada e falta de saneamento. Não por acaso, leitores do British Medical Journal elegeram o acesso a água potável e a saneamento como o mais importante avanço da saúde pública nos últimos 200 anos, à frente de marcos notáveis como a descoberta de antibióticos, anestesia e vacinas.

A distribuição de água potável de qualidade requer o atendimento a quatro princípios básicos. O primeiro é a proteção dos mananciais de água contra a poluição. O segundo princípio é o tratamento da água para remover os microrganismos e compostos químicos presentes. O terceiro fundamento é a boa manutenção da infraestrutura de distribuição da água – canalizações, bombas e reservatórios. O último princípio se refere à boa manutenção das instalações hidráulicas dentro das residências. As cidades brasileiras falham em todos esses fundamentos. O reflexo desta situação é o consumo crescente de água engarrafada e o abandono da água da torneira por parte da população. Em cidades civilizadas, os cidadãos bebem água da torneira, pois ela é de qualidade. A água engarrafada deve ser complementar à água da torneira, nunca seu substituto.

Agentes públicos, políticos e diretores de empreiteiras que roubam o dinheiro público são mais do que pessoas desonestas que cometem atos ilícitos. São criminosos, pois as suas ações resultam, de modo indireto, na morte de pessoas que não têm acesso a água potável porque os investimentos nesta área são grosseiramente insuficientes no Brasil.

Texto por: Antônio D. Benetti, Professor de Engenharia Civil e Ambiental da UFRGS. Publicado em 15/Dezembro na Zero Hora.

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